GartenGüt (O Jardim Dos Deuses)!

Capítulo VI – As questões entre poemas!

XVIII – A doce Halsher’drin que derramava vinho em seus lábios!

olá belos homens, bem-vindos a vossa casa!

Na entrada da tenda, uma Halsher’drin (N.A: Governanta), extremamente bela, com lábios vermelhos como morangos e um cabelo que caía pelos ombros, além de profundos olhos castanhos, aparecia junto com uma pequena criança, que segurava seu curto vestido, feito de seda, onde a cor vermelha refletia palidamente a luz solar.

August não se impressionou, haviam muitas mulheres belas entre os nômades, por isso apenas forçou um sorriso, enquanto retribuía o cumprimento com a cabeça.

Seu isä (N.A: pai), no entanto, não mostrou modos, como pode se dizer, castos, agarrando aquela bela Halsher’drin e beijando seus lábios e pescoço, vulgarmente, em pleno sol.

Isso foi estranho, August se lembrava que seu isä era filiado a alguma daichin (N.A: guerreira) famosa, porém ele não se importou. Do que valeria se importar no fim das contas.

Ele apenas entrou na tenda, com o mesmo sorriso forçado, enquanto olhava com o canto do olho para a pequena criança que se encontrava entre as pernas da moça.

Dentro da tenda, um enorme espaço iluminado pela luz do dia que adentrava por um teto solar, protegido por uma camada fina de tecido transparente (contra insetos), era visto por August que contemplava com um suspiro:

Yurt*! (N.A: Here)

Nos acampamentos ocultos, as tendas eram pequenas, apertadas, sem carpete, onde insetos sempre devoravam as orelhas no fim das noites. Elas não eram redondas, não eram grandes, não tinham entradas para luz, sendo escuras, frias (nos dias amenos) ou quentes (nos dias agradáveis). August nem tinha um nome pre descrever essas tendas genéricas feitas com peles já sujas e esfarrapadas.

Contrariamente, na Dorf’Verbant do Clã Fünder, as tendas eram redondas, feitas de um tecido parecido com seda, um pouco mais áspera, e madeira, contendo diversas entradas para luz e carpetes. Ao entrar, ele não se sentiu nem um pouco envolto numa rede rústica e fedorenta, parecendo mais que ele estivesse na Yurt de campanha de alguma figura oriental importante, vendo, nos móveis lustrados e na enorme mesa em sua frente, algo bem parecido com a civilização de seu passado, onde ele havia lutado contra (pelo menos em sua mente) por pelo menos 17 anos.

August ficou admirado, pra resumir, enquanto parava e observava a habitação, ao lado de seu isä.

pegue uma cadeira, sorim, essa bela nainem (N.A: dama), preparou um banquete, para nos deliciarmos!

FünderBae, com um sorriso radiante em seu rosto pouco marcado pela idade, disse, enquanto se sentava numa cadeira naquela única mesa do ambiente.

agradeço o esforço, isä’hem (N.A: Modo formal a se dirigir ao pai)! – August respondeu, pegando uma cadeira e se sentando em frente a FünderBae.

Ao lado, uma criança, com pouco mais de seis anos, se sentava, enquanto mantinha a cabeça baixa. Seu isä não parecia reparar muito nele.

então, sorim, após tanto tempo fora, o senhor deve ter alguma boa estória pra me contar? – FünderBae ainda se mantinha sorridente, enquanto a bela halsher’drin enchia seu copo com um vinho branco, de um cheiro doce.

talvez, mas não havia muito pra se fazer além de humilhar alguns fracotes e levar esporro!

No sorriso, August contou algumas histórias verídicas e outras bem mentirosas, mantendo seu pai entretido enquanto puxava para si toda a confiança que aquele grande isä se dispunha.

Enquanto isso, o pequeno menino ao seu lado, com um enorme sorriso que se apresentava a cada momento, em cada história, começava a se pôr em diálogo, sempre exclamando em cada momento dito excitante.

August não conhecia o pequeno, por isso, no meio de suas histórias, sempre se colocava num olhar de esguelha para verificar toda a emoção dos olhos do pequeno, além de tentar achar alguma similaridade compartilhada com o seu isä e, talvez até, com sua äiti (N.A: Mãe) daichin.

De fato ele não encontrou, porém, pode-se ver da simetria e no olhar que, com certeza, aquele menino era filho daquela bela halsher’drin, que invadia o meio de sua história, trazendo uma enorme panela de ferro fumegante, que cheirava deliciosamente.

Ele a recebeu, enquanto a mesma se sentava, puxando uma cadeira e felicitando sua comida.

que menino educado, parece um achado entre esses homens musculosos e barbudos que apenas sabem usar suas espadas! – Ela disse com um sorriso enquanto olhava curiosamente para o nosso educado August.

não diga tal, são esses musculosos e barbudos que protegem nossa terra – seu isä respondeu, um pouco decepcionado.

que afirmação interessante, por acaso a senhora é uma estrangeira? – August perguntou por fim, quase ignorando, completamente, o seu estupefato pai.

de certo, de certo, jovem perspicaz, essa halsher’drin é um achado das terras do sul, além planície, do Reino de Sempre Outono.

um Reino Shidten? Que ousado de sua parte isä!

não é assim, sorim’hem (N.A: jovem mestre). Sou incapaz de proferir o Flutcher com minha língua e alma. Por isso sou uma supprimé (N.A: exilada), que trabalhava como camponesa, num dos campos que eram constantemente saqueados por um grupo de Varbenênts, a um tempo atrás.

então, por sua conta e risco, decidiu sobreviver na planície? Então a ousada aqui é a senhora, bela halsher’drin.

assim você me constrange, sorim’hem!

August pegou um pouco de sopa, enquanto se calava. Ele já havia entendido um pouco a maioria dos fatos, por isso não perguntaria mais, não valeria a pena, além de que poderia se comprometer por tal.

Ele não sabia, mas imaginava a importância daquela bela halsher’drin para o seu isä. Por esta, parecer agradável era essencial, caso não quisesse causar atritos no ambiente quase aristocrático no Clã Fünder.

então sorim – disse FünderBae, protestando contra o silêncio que se apresentava durante a refeição – o que há de fazer antes da Nehmen’Name?

Antes da Nehmen’Name, os jovens precisavam acumular uma coisa chamada det’ghëk (N.A: respeito), para poder participar do rito de nomeação.

A muito tempo, os jovens sorinis não precisavam lutar para obter o det’ghëk. Tudo isto era dado pelos grandes isärins (N.A: pais) preocupados das classes mais altas das Dorf’Verbant de todos os Clãs. Porém, os Hilikómenus (N.A: Anciões) do passado perceberam que essa prática nepotista enfraquecia os Clãs, podendo reduzi os Varbenênts em pó na história de todos os Reinos caso nada mudasse.

August havia estudado, um pouco, de história, através dos kürchinis e daquelas crianças que caminhavam ao seu lado. Destilando um pouco, a verdade se mostrava.

partirei em missões ao redor da planície – August respondeu com um sorriso – Quero ficar os próximos quatro anos polindo minhas habilidades, além de adquirir experiência. Desejo herdar aquilo que o senhor cultivou e cuidou durante a vida. Quero me tornar o seu sucessor!

As palavras de August não diziam tudo, apenas o suficiente, sendo mais um apelo emocional ao seu isä que, como uma montanha repleta de nascentes, não pode de deixar transbordar, em seus olhos, as lágrimas.

você é realmente decidido – disse o grande homem, enxugando as lágrimas com as mãos sujas – bem que os kürchinis Modnoos e Böru me disseram que você era, no mínimo, ambicioso e que é tal que sustenta sua genialidade. Ah! Como um isä, isso me dói muito o peito.

não se preocupe com tal, isä’hem (N.A: Patriarca) – disse a halsher’drin, pegando ternamente em sua mão, consolando-o – August é um menino confiante, educado, inteligente e forte, com certeza ele fará o que fará para o conquistar, aliás – e com um poema, ela disse, liricamente, quase tirando algo de sua alma magoada:

sorinis kónä

na óla sas isä

(N.A: Filhos fazem de tudo por seus pais)!

Ainda com um sorriso, ela beijou as mãos de FünderBae enquanto terminava:

seu filho nem sempre lhe dará aquilo que o senhor deseja, mas eles sempre farão qualquer coisa por sua realeza.

Os lábios de FünderBae tremeram e sua mão livre, que por algum tempo secava as lágrimas correntes, apertou com força a da bela nainem em sua frente. Com um mordida nos seus próprios lábios, ele disse apaixonadamente:

sempre em tempo, bela nainem! Como é bom ser reconfortado por suas palavras que me fazem sentir a vida. Como é bom, ah! Será que seria muito para esse pobre ouvir o resto de sua boca.

Olhando ternamente para FünderBae, aquela bela halsher’drin moveu os seus lábios novamente:

Sorinis Kónä

Na óla sas isä

Ótan Ánemas

Beachik a porä

(N.A: Filhos fazem de tudo por seus pais quando o vento bate a porta)

A beleza lírica inspirada, porém, afetou apenas um homem sentado a mesa.

bem belo, admito – disse August que até aquele momento tomava sua sopa, descompromissadamente – mas não está na linguagem dos Shidtenis em todo?

Seu isä não se importou com a pergunta, porém retirou em mãos aquelas que se escondiam entre as suas. A halsher’drin, que também não se importou de todo, virou seu rosto, hesitantemente, em direção a August, onde, com um sorriso, disse:

não, não, a katholíki é uma língua universal. Os Shidtem apenas a oficializaram por conveniência, mas no fim, é usado por todos os povos, talvez até antes da era dos Deuses. Essa é uma língua divina, que todos podem desfrutar, como tal, pequeno ‘sorim’.

August esboçou um sorriso. Não importava pra ele no fim, qualquer coisa. Apenas sua ambição era pauta, para aquele pequeno e jovem calculista.

Porém, ele ainda se perguntava: – uma mulher bonita, educada, de pele tão branca quanto a neve, veio mesmo lutar pela vida na planície? Há algo de bem errado nesta bela halsher’drin. Ah! De todas as formas isso não é problema meu de todo …

Ele terminou de beber sua sopa enquanto via aquele casal enamorado, pensando em bilhares de coisas, até terminar a refeição.

já terminado, isä, desejo pôr as coisas em ordem, então, se me derem licença …

August disse, polidamente, para o seu pai que pouca atenção dava, como se enfeitiçado.

tudo bem, tudo bem sorim! Já que você vai, de todas as formas, seguir vossa vida, não poderei fazer outra senão te dá um sorriso. Espero que você consiga, o que quer, no fim das contas.

XIX – Quadro de Avisos!

Após a refeição, August escorregou pra fora em busca de seu objetivo. Dito isso, ele seguiu pela larga Dorf’Verbant, vendo os diversos homens sem camisa carregando equipamentos e belas mulheres treinando ao redor dos currais humanos (ondes os plemistís e as daichins treinavam).

Aquilo era uma vila de guerreiros para guerreiros numa planície onde apenas os fortes sobreviviam.

August suspirou com o pensamento. Como não? Caso um dia ele se tornasse o Dürg’hem do Clã Fünder, ele precisava ser o mais forte de todos aqueles guerreiros.

isso não é uma preocupação para agora! Desde que eu não perca um braço ou uma perna, poderei fazer um pouco de tudo.

August se dirigiu às entranhas da vila, onde se encontravam as caravanas, os estábulos, os ferreiros e, mais importante, o quadro de avisos. Nele, missões que poucas pessoas se arriscariam a tentar se mostrava.

Urgente: chötgor’dör (N.A: Demônio de fogo) ataca caravana, recompensa por sua cabeça são 4 sacos de prata.”

Missão: golem de barro é encontrado protegendo ruínas, necessito de pessoas capacitadas para explorar. Se encontrar com Zurag na quarta tenda da passagem dos relâmpagos, recompensa a combinar.”

Missão: resgatar minha filha de sequestradores, pago 2 sacos de cobre. Falar com Od na tenda 4 em meio ao segundo campo de trigo.”

August analisou cada uma das três missões disponíveis no quadro. Elas não tinham muitas informações, claro, porém eram de extrema importância, com significados reveladores o suficiente para se dizer o que era ou não sustentável fazer.

se eu fosse pegar qualquer uma dessas, não me limitaria a mais difícil ou a mais fácil. Outras pessoas podem desejar qualquer dessas, então preciso ser rápido para aceitar e finalizar. Que complicado …

No pensamento, August decidiu fazer a missão dos sequestradores. Ele imaginou que, independente do que fosse, ele escolheria a que não precisasse enfrentar demônios já que, em sua mente, humanos são bem mais fáceis de lutar do que grandes monstros.

XX – A velha tenda em meio aos campos de trigo!

Descendo a estrada em meio aos enormes campos de trigo, August entrou numa trilha, que adentrava até um conjunto de tendas, onde agrótes (N.A: Fazendeiros) se encontravam descansando nas cadeiras de palha acolchoadas com algodão e bebendo aguardente amargo.

Ao se aproximar, August identificou as runas que indicavam numeração e encontrou o que queria: uma tenda escura, de entrada fechada, onde alguns murmúrios pouco sonoros ressoavam.

August se aproximou da tenda, porém alguns agrótes tentaram impedi-lo com palavras deprimentes:

não faça isso, não magoe mais o pobre coitado. Ele chora e chora o dia todo, você não quer fazê-lo chorar mais, quer?

August deu um olhar pro agrótes que falou, porém não respondeu nada. Ele apenas entrou na tenda, como se apenas o silêncio precedesse sua entrada.

Dentro, uma tenda escura, com cheiro estranho de ervas e algo mais, se mostrou junto com as prateleiras repletas de frascos embaçados e uma cama no meio onde uma figura se encontrava sentado.

vim pela missão. – August falou, com uma doce voz ecoando na mórbida tenda.

Nada foi respondido, porém.

já que é assim, desculpe o incômodo. Passar bem … – August deu três passos, em desejo por sair daquele ambiente, mas, da cama, finalmente um som veio, seguido por lágrimas que lavavam as mãos daquele pobre velho sentado.

minha filhinha … minha filhinha … tão pequenina com suas mãozinhas brancas e um sorriso tão bonitinho que, seguido de seus gritinhos, me fazia ser o papai mais feliz do mundo! – o velho parecia um maníaco falando, como se, em depressão, se agarrasse nas finas e boas memórias que tinha da filha – bandidos tiraram ela de mim, pedindo 20 sacos de ouro em troca. Talvez pensassem que ela era filha de um Dürg’Hem destemido, pela beleza, ou de algum patriarca de uma grande ger’bül (N.A: família) de guerreiros. Ela era tão bonita, minha futura halsher’drin, que desgosto pra esse pai, que desgosto. Eu nunca deixei ela trabalhar no campo, não queria estragar suas mãozinhas e, ah! Você vai mesmo resgatar a minha filhinha?

August aceitou essa enxurrada de palavras em bom gosto.

Informações decentes poderiam vir disso, no fim das contas, o que facilitaria, e muito, o seu trabalho nessa importante missão de ‘filantropia’.

com certeza, esses sequestradores são bem burros para sequestrar a filha de um simples agrótes. – August consolou – além do mais, você me tem, o próximo guerreiro número um dessa Dorf’Verbant.

Subitamente o velho se virou se encontrando com um menino tão pálido quanto a neve, de olhos vermelhos sangrentos, sem camisa, vestindo uma calça esfarrapada de pele de chötgor’engiin e sem nenhuma espada no torso.

Ele queria chorar com a imagem, voltar no seu mundo de depressão, porém um sorriso resplandecente emanava, em sua glória, toda a leveza e esperança que os jovens costumavam sentir, naquele rosto fantasmagórico, fazendo aquele velho simplesmente falar, como um plebeu diante de um rei.

Pena que era apenas o efeito de uma habilidade inata de August.

eles levaram minha filha dessa tenda enquanto eu trabalhava na terra, bom senhor. Me falaram pra levar 20 sacos de ouro em troca, caso senão venderiam ela como escrava. Pediram também para eu levar os sacos de moedas na caverna antiga, perto do lago, sozinho. Se eu fosse acompanhado, me matariam. Tenho mais dois dias pra entregar, caso senão, eles levarão minha filha.

August balançou a cabeça com a afirmação enquanto pensava.

eles te falaram isso pessoalmente?

não, eles deixaram uma carta na minha cama …

se referindo ao seu nome ou algum título?

eles me chamavam de pobre servo …

então esses mesmos não sabem quem você é já que, se soubessem, nem tentariam negociar e venderiam desde já sua filha – o velho arregalou os olhos em surpresa – como você é uma pessoa sortuda, eu posso fazer esse trabalho facilmente pra você.

Com as mãos tremendo, o velho tirou do bolso do seu casaco um pequeno saco de couro que tilintava ao ser jogada pelo ar, em direção a August que agarrou-a com um sorriso.

se tudo der certo, te devolvo sua filha amanhã. Se demorar mais, devolvo sua filha em outro dia. De todas as formas, devolverei ela a ti, bom agrótes.

E nesta, August saiu daquela tenda, pensando apenas algumas preparações para o desenrolar que se daria mais tarde.

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